domingo, 27 de fevereiro de 2011

Direitos Iguais para Iguais Direitos



Gosto muito de ler sobre o universo masculino bem como o machismo que permeia a mente dos homens. Lendo uma coluna na revista época sobre Mulheres Canalhas, o autor fala que sempre achou homens e mulheres muito parecidos, até parece né?

Aprendemos bem a lição, com os homens, deixamos de ser serviçais e fomos a luta, não só na área profissional como também na sentimental, e nessa os homens souberam ensinar direitinho, e como bem fala o autor da coluna, Ivan Martins:

Os homens, tanto quanto eu percebo, são incapazes de operar nesse universo de sutilezas, por uma razão essencial: não é fácil manipular o desejo das mulheres.

Homens são facilmente controláveis pelo zíper. Não é preciso ser uma beldade para fazer isso. Bastar ser sensual e gostar de sentir-se assim. E ter em si um grama de maldade. O roteiro é velho e batido: quando o sujeito quer, a moça não quer. Queria ontem, mas hoje não tem certeza. Aproxima-se, mas, depois, muda de ideia e se afasta. Enquanto isso, mantém o corpo desejado a uma distância impossível de ignorar, mas difícil de tocar. É fácil e simples.

Ivan, fala ainda que, quantos homens vocês conhecem que são capazes de manter uma mulher na rédea com esse tipo de ardil? Eu não conheço nenhum. Nas únicas situações em que vi esse tipo de coisa acontecendo, a mulher estava completamente apaixonada. Mulheres apaixonadas parecem perder o controle. Homens perdem o controle por luxúria, por lascívia, por desejo, por tesão – sentimentos muito mais corriqueiros neste mundo de meu deus. A gente vê isso acontecendo todos os dias.

Essas não são diferenças no interior do cérebro ou da alma, porém. São diferenças sociais que, de tão velhas, passaram a fazer parte de nós – até que sejam varridas da face da Terra por uma ou duas gerações criadas em igualdade.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Para todos os casais.



Esse texto é muito bom, e deveria ser sempre aplicado nas nossas relações...


"Por mais que o poder e o dinheiro tenham
conquistado uma ótima posição no ranking
das virtudes, o amor ainda lidera com folga.
Tudo o que todos querem é amar.
Encontrar alguém que faça bater forte o
coração e justifique loucuras.

Que nos faça entrar em transe, cair de quatro,
babar na gravata.

Que nos faça revirar os olhos, rir à toa,
cantarolar dentro de um ônibus lotado.
Depois que acaba esta paixão retumbante,
sobra o que? O amor. Mas não o amor
mistificado, que muitos julgam ter o poder
de fazer levitar.

O que sobra é o amor que todos conhecemos,
o sentimento que temos por mãe, pai, irmão,
filho. É tudo o mesmo amor, só que entre
amantes existe sexo.
Não existem vários tipos de amor, assim como
não existem três tipos de saudades, quatro de
ódio, seis espécies de inveja.

O amor é único, como qualquer sentimento, seja
ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.
A diferença é que, como entre marido e mulher
não há laços de sangue, a sedução tem que ser
ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de
durabilidade, qualquer alteração no tom de voz
nos fragiliza, e de cobrança em cobrança
acabamos por sepultar uma relação que poderia
ser eterna.

Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo,
mas insustentável. O sucesso de um casamento
exige mais do que declarações românticas.

Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso.

É preciso que haja, antes de mais nada, respeito.
Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência.

Amor, só, não basta.

Não pode haver competição. Nem comparações.

Tem que ter jogo de cintura para acatar regras
que não foram previamente combinadas.

Tem que haver bom humor para enfrentar
imprevistos, acessos de carência, infantilidades.


Tem que saber levar.
Amar, só, é pouco.
Tem que haver inteligência.

Um cérebro programado para enfrentar
tensões pré-menstruais, rejeições, demissões
inesperadas, contas pra pagar.

Tem que ter disciplina para educar filhos, dar
exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem visando a longevidade
do matrimônio tem que haver um pouco de
silêncio, amigos de infância, vida própria, um
tempo pra cada um. Tem que haver confiança.

Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou.
É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão.
E que amar, "solamente", não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor
é só poesia, tem que haver discernimento, pé no
chão, racionalidade. Tem que saber que o amor
pode ser bom, pode durar para sempre, mas que
sozinho não dá conta do recado. O amor é grande
mas não é dois.

É preciso convocar uma turma de sentimentos
para amparar esse amor que carrega o ônus da
onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.



Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!"



(Autor: Arthur da Tavola)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Diga não a aprovação do aborto no Brasil


SÁBIO GINECOLOGISTA

Uma mulher chegou apavorada no consultório de seu ginecologista e disse:

- Doutor, o senhor terá que me ajudar num problema muito sério. Este meu bebê ainda não completou um ano e já estou grávida novamente. Não quero filhos em tão curto espaço de tempo...

O médico então perguntou:

- Muito bem.. O que a senhora quer que eu faça?

A mulher respondeu:

- Desejo interromper esta gravidez e conto com a sua ajuda.
O médico então pensou um pouco e depois de algum tempo em silêncio disse para a mulher:

- Acho que tenho um método melhor para solucionar o problema. E é menos perigoso para a senhora.

A mulher sorriu, acreditando que o médico aceitaria seu pedido.

O médico então completou:

- Senhora, para não ficar com dois bebês de uma vez, em tão curto espaço de tempo, vamos matar este que está em seus braços. Assim, a senhora poderá descansar para ter o outro, e terá um período de descanso até o outro nascer. Se vamos matar, não há diferença entre um e outro. Até porque, sacrificar este que a senhora tem nos braços é mais fácil, pois a senhora não correrá nenhum risco...

A mulher apavorou-se e disse:

- Não doutor! Que horror! Matar uma criança é um crime horrível.

- Também acho minha senhora, mas me pareceu tão convencida disso, que por um momento pensei em ajudá-la.

O médico sorriu e, depois de algumas considerações, viu que a sua lição surtira efeito. Convenceu a mãe que não há menor diferença entre matar uma criança que nasceu e matar uma ainda por nascer - ambas estão vivas!!!

"O CRIME É O MESMO !!"

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pedaços de Mim




Mais um texto de Martha Medeiros, ela é ótima e escreve com a alma!!

Somos feitos de muitos pedaços...


Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos
Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão
Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante

Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas
Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar
Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei
Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

Martha Medeiros

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Coração de Criança


E que venha o final de semana!!!!


Todo mundo carrega dentro de si uma criança.

E todo mundo aprende a reprimi-la para ser adulto.

Crescemos e "temos" que ser sérios.
Quantas vezes você já não ouviu alguém dizer: "deixe de criancice!"?
E desde quando precisamos deixar de ser crianças?


Ria de você mesmo, seja "ridículo",

brinque na chuva, de fazer castelos na areia, de fazer castelos no ar...

sonhe, faça bagunça no meio da rua, cante na hora que der vontade,
converse com você mesmo como se tivesse conversando com um amiguinho,
assista desenho animado e veja a sua vida
como se ela fosse um desenho animado,
brinque com uma criança... como uma criança...


Fique feliz simplesmente por ficar,

sorria e ria sem motivo,

ria de você, dos seus dramas, do ridículo das situações...


E acredite na pureza do ser humano...

na pureza de criança que talvez esteja escondida,

mas que existe em cada um de nós.


Para alguns você vai parecer louco, bobo ou infantil...

mostre a língua para esses "alguns" e diga,

como uma criança: "sou bobo mas sou feliz!"


Esses "alguns" com certeza têm uma criança maluquinha,

doida pra fazer bagunça também.


A vida já é muito complicada para vivermos sérios e carrancudos.

E isso tudo não é deixar de viver com seriedade...

é viver com a leveza de uma criança

e obrigações de adulto.


Fica muito mais fácil viver assim.

Com um coração de criança. Sempre.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Se não quiser adoecer - "Busque soluções"




Devemos buscar soluções para melhorar a nossa vida, sempre!!!

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo.

Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão.

Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe.

Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"

Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... uma estátua de bronze, mas com pés de barro.

Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas.

São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Maria

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Torna-se mulher...



Simone de Beauvoir, escritora e feminista, uma das minhas preferidas...


“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” A frase de Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo se tornou tão forte e tão repetida que é, ao mesmo tempo, um tributo e um desserviço a sua obra. Tributo, porque é uma frase forte que condensa um pensamento inovador: o de que por trás de nossas características biológicas existe um edifício feito de preconceitos e dominação que nada têm de naturais.


Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. Enquanto existe para si, a criança não pode apreender-se como sexualmente diferenciada. Entre meninas e meninos, o corpo é, primeiramente, a irradiação de uma subjetividade, o instrumento que efetua a compreensão do mundo: é através dos olhos, das mãos e não das partes sexuais que apreendem o universo. O drama do nascimento, o da desmama desenvolvem-se da mesma maneira para as crianças dos dois sexos; têm elas os mesmos interesses, os mesmos prazeres; a sucção é, inicialmente, a fonte de suas sensações mais agradáveis; passam depois por uma fase anal em que tiram, das funções excretórias que lhe são comuns, as maiores satisfações; seu desenvolvimento
genital é análogo; exploram o corpo com a mesma curiosidade e a mesma indiferença; do clitóris e do pênis tiram o mesmo prazer incerto; na medida em que já se objetiva sua sensibilidade, voltam–se para a mãe: é a carne feminina, suave, lisa, elástica que suscita
desejos sexuais e esses desejos são preensivos; é de uma maneira agressiva que a menina, como o menino, beija a mãe, acaricia-a, apalpa-a; têm o mesmo ciúme se nasce outra criança; manifestam-no da mesma maneira: cólera, emburramento, distúrbios urinários;
recorrem aos mesmos ardis para captar o amor dos adultos.
Até os doze anos a menina é tão robusta quanto os irmãos e manifesta as mesmas capacidades intelectuais; não há terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da puberdade e, às vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta
como sexualmente especificada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediatamente à passividade, ao coquetismo, à maternidade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é quase original e desde seus primeiros anos sua vocação lhe é imperiosamente insuflada.

O Segundo Sexo, volume 2. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967,
2ª edição, pp. 9-10.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Receita de bem Viver!


1. Os desejos são ilimitados, o seu tempo não
Defina metas, prioridades na sua vida. Faça periodicamente uma revisão de seus objetivos.
2. Você é responsável e senhor da própria qualidade de vida
Defenda seus direitos. Aprenda a ser eficaz e a ter ritmo: trabalho/lazer/alimentação/repouso/inspiração/expiração.
A qualidade de vida é uma planta que necessita ser regada sempre.
3. Você é um só
Você só tem um coração. Portanto, faça uma coisa de cada vez. Tenha atividades e relações relaxantes.
4. Cuide do seu corpo
Escolha alimentos saudáveis, evitando agressões do tipo fumo, droga, excesso de bebida e comida.
Reduza a ingestão de café. Beba oito copos de água, no mínimo, por dia. Mantenha seus intestinos funcionando bem.
Faça atividades físicas, no mínimo três vezes por semana. Mantenha seu peso corporal em um nível satisfatório para você.
Ponha os pés descalços na terra por um mínimo de 20 minutos, em um lugar de muito verde, uma vez por semana.
Faça um check-up anualmente.
5. Cuide de sua mente
Seja seletivo com o que lê e vê. Reduza o hábito de assistir televisão. Exercite sua criatividade com música e artes em geral.
Faça coisas que nunca fez, indo a lugares a que nunca foi. Quebre rotinas e experimente o novo.
6. Que a sua casa seja um lar
Um lugar acolhedor que o receba ao final de um dia cansativo, oferecendo-lhe conforto, calor à sua alma, repouso e amorosidade.
Que seja um ninho para refazer as suas forças. Cuidado: não gaste todas as suas energias para ter uma casa e todos os bens de consumo do mundo moderno.
Pode não lhe sobrar nem um minuto para usufruí-los.
Tornar uma casa um lar é um aprendizado contra o stress.
7. Descubra quem é você
Qual é seu temperamento, quais são suas crenças? Seja coerente com elas. Defenda seu bem-estar.
Cultive um respeito saudável por sua individualidade e privacidade.
8. Não seja onipotente
Aprenda com os outros, procure ajuda necessária com amigos, médicos, terapeutas.
Ouça e veja, para depois identificar quem são os aliados necessários e aqueles a quem deve evitar.
Não avalie pessoas e situações com preconceito. Às vezes, a resposta de uma situação difícil e estressante está numa atitude ou pensamento inédito.
9. Conheça e respeite o outro
Ouça com atenção, buscando compreender o que o outro quer dizer.
Ao verbalizar, certifique-se de estar sendo claro e compreensivo com o outro. O outro não é melhor nem pior que você.
Ele é diferente, o que torna necessário o esforço de entendimento de ambos os pontos de vista.
Aceitar e usufruir as diferenças é sabedoria.
10. Amor, intimidade e sexualidade
Relações compulsivas, superficiais, narcisistas são como fast-food: costumam ser atraentes, mas não são nutritivas e podem custar muito caro no médio prazo. Cuide para desenvolver intimidade com pessoas com as quais sinta afinidade.
Cultive a espontaneidade, sinceridade, amizade, alegria e prazer nas trocas afetivas.
Deixe o sentimento fluir: “O amor faz bem ao coração".
11. Centre-se e equilibre-se
Todo dia encontre um tempo para esvaziar-se e estar consigo mesmo.
Use técnicas auxiliares como meditação, respiração e massagens para relaxamento.
Não seja escravo nem de si mesmo. Tenha férias! Contra o stress, o período mínimo de férias é de 21 dias consecutivos.
Tenha férias compatíveis com suas condições físicas, psíquicas e financeiras.
Lembre-se: programas com muitos estímulos são prazerosos para quem está vitalizado.
Não leve em sua bagagem de férias seu chefe, sua empresa, companhias desgastantes, seu computador e malas sem alça.
12. Tenha fé
Uma situação, qualquer que seja, nunca é apenas boa ou ruim. Haverá sempre custos e benefícios.
Quanto mais luz, mais sombra. Nunca se esqueça de que tudo é temporário.
É muito importante preservar-se para a próxima etapa. Você é único, o que te faz valioso.
Confie em Deus. E sempre... sempre... sorria !

Fonte: Jornal Estado de minas
Autora: Acely Gonçalves

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sempre Acontece...

Muitas vezes deixamos a nossa vida correr, sem tomarmos as rédeas e sempre nos acostumando com tudo, com as relações que não deram certo, com a falta de amor, de carinho de amizade, enfim deixamos tudo do jeito que está.

Esse texto é muito legal, e fala um pouco sobre isso...

Vou pensar melhor na minha vida e no que estou fazendo com ela...


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Marina Colasanti